O Espírito Santo registrou uma morte de criança ou adolescente a cada quatro dias nos últimos dois anos. O dado é do Observatório da Segurança Cidadã. Ao todo, entre 2019 e 2020, foram 193 crianças e adolescentes assassinados no estado.
Desses assassinatos, 169 foram de vítimas com faixa etária entre 15 a 17 anos. A maioria das mortes também foram de meninos: 182 casos.
Os municípios com mais assassinatos de adolescentes e crianças no Espírito Santo são Cariacica, Vila Velha e Serra.
Para o deputado estadual Danilo Bahiense, que preside uma comissão de proteção à criança e ao adolescente, boa parte dos casos pode ter relação com o tráfico de drogas.
"Se o estado não der nenhum recurso para que as famílias, os pais, possam cuidar dos seus filhos, o tráfico acaba adotando. Na grande maioria, essas vítimas são do sexo masculino. Os meninos geralmente são mais afoitos, e entram no tráfico intensamente. Até pela tenra idade, são valentes, usados pelos traficantes maiores para fazer justiça. Então, acabam sendo assassinados com grande facilidade", apontou o deputado.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) explicou que a criminalidade no Espírito Santo também está ligada à faixa etária. Na visão da Sesp, as vítimas são jovens com pouco ou nenhum acesso à educação.
A situação é confirmada por um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o Instituto, o estado tinha, em 2019, 96 mil adolescentes com idades entre 15 e 17 anos fora da escola.
"Estamos falando de uma criminalidade juvenil, que vai de 12 a 28 anos, afastadas de conceitos familiares, religiosos e educacionais, ligados diretamente ao tráfico de entorpecentes com muita violência. Segurança Pública é dever do estado, responsabilidade de todos. Precisamos trabalhar em conjunto. Nós precisamos tratar essa criminalidade juvenil de outra forma, muito além das ações das polícias", explicou o secretário de Segurança Pública, Alexandre Ramalho.
O Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), responsável pelo Observatório da Segurança Pública, analisa que a faixa etária de 15 a 17 anos é a mais vulnerável e mais fácil de atrair para o tráfico.
"Nessa faixa etária de 13 até 15 anos, o indivíduo quando está fora da escola passa a ter um tempo ocioso. A gente sabe que algumas comunidades têm uma dinâmica do tráfico muito grande. Esse indivíduo que não está inserido no sistema de ensino, é mais facilmente cooptado pelos agentes do tráfico de drogas ilícitas", explicou o diretor de integração do IJSN, Pablo Lyra.
Para resolver essa situação, o especialista acredita que o foco deve ser no investimento de políticas públicas.
"É muito importante a integração de polícias preventivas, tanto para reduzir a evasão, mas também para reduzir evasão e abandono no segundo ciclo do ensino fundamental. Quanto antes as políticas de prevenção para diminuir a evasão escolar sejam implementadas nesse ciclo educacional do indivíduo, menores são as chances dele sair desse ambiente escolar".
(G1 / ES)